quinta-feira, 8 de maio de 2014

METAMORFOSE



O tempo atual configura-se cada vez mais como época das grandes transformações. Mudanças que mostram inegáveis avanços no mundo técnico, científico, humano e espiritual. Em sua pluralidade de visões, de manifestações, de culturas a raça humana revela sinais de uma capacidade impressionante de construir o bem, a fraternidade, a boa convivência em parcerias variadas. Bendito seja essa era das comunicações, das redes virtuais, das facilidades de transitar pelo planeta sem tantas dificuldades. Como não ficar feliz com tamanhas conquistas, com o esplendor das variadas novidades!

Todavia, ingênuo seria aquele que não reconhecesse as sombras, as dificuldades que amargam a vida em suas facetas mais variadas. A desigualdade certamente é uma das mais gritantes. Absurdo o que uns acumulam em detrimento de outros. A distância abissal entre ricos e pobres enfraquece qualquer projeto de crescimento e de paz. Difícil imaginar um bom futuro se o racismo é insistente. Mais difícil ainda é assistir as ilusórias campanhas, absolutamente passageiras, com ares de alegria porque milhões curtiram, em poucas horas, um gesto, uma foto. No outro dia? Sem nenhuma notícia, a exploração continua agressiva a espera de mais holofote que elege como digno de brilho alguma outra postura isolada.  Cultura, atitudes não se mudam no final de um dia como se fosse a roupa do corpo. A conversão exige a lenta formação da consciência. É empenho de sempre porque o novo pede compromisso, um contínuo gastar a vida.

Um estudioso que conjuga bem filosofia e religião chama esse cenário de caos-gênese. Momento complexo, entretanto positivo e que interpela o ser humano a dar novas respostas para seus problemas. Como a lagarta que, num processo lento, progressivo, paciente, encanta o espaço com o voo de uma linda borboleta, as mudanças grandes, no coração humano, não podem acontecer apenas na magia dos espaços virtuais. Elas exigem relações, presença, posturas existenciais. Necessitam investimento paciente, diário e a certeza de uma demora geradora. As apressadas promessas de felicidade que insistem em chegar por todos os lados não são compatíveis com as verdadeiras metamorfoses. O que os novos cenários parecem esperar é o encantamento pelo milagre que é a vida, um dom que merece respeito e cuidado.

Pe. Vicente de Paula Ferreira, C.Ss.R
Superior da Província Redentorista do Rio



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