quarta-feira, 8 de maio de 2013

Asas do Espírito, uma força amorosa


Asas do Espírito, uma força amorosa

“No mistério do sem-fim equilibra-se um planeta. E no planeta um jardim e no jardim um canteiro e no canteiro uma violeta e sobre ela o dia inteiro entre o planeta e o sem-fim a asa de uma borboleta”
(Cecília Meireles)


O mistério do sem fim, coração do homem. Capaz de tamanhas façanhas na amplidão infinita de céu e terra. Ah que se curvar, pelo caminho afora, diante dos encantos mais variados e, muitas vezes, mãos postas, deixar surgir alguma silenciosa prece. Acenos que se interpõem nos horizontes, verdadeiros sinais da paz inquieta dos caminhantes. Uma flor de borboleta pode dar asas ao coração e trazer, de perto ou de longe, inspirações alvissareiras. Humano, de alma vazia, sem sonhos, não consegue alcançar respiro suficiente para cruzar barreiras. Existência amarga daqueles que não sentem o gosto da poesia, da arte, da música boa. Entre tantos estigmas, é possível colher do fundo da gente, como mestra de outros, a sensibilidade sagrada de quem se encanta e por isso louva e cuida dos divinos e graciosos dons. “Olhai os lírios do campo como crescem: não trabalham nem tecem. Entretanto vos digo que nem Salomão, no auge de sua glória, vestiu-se como um deles” (Mt 6, 28-29).  


Sim! Há os que se aperfeiçoam nas ciências capazes de incríveis aparatos técnicos. E o que dizer dos gênios inventores ou descobridores dos mais sutis enigmas naturais? Entretanto, um momento, por favor! O louvor de hoje vai para as cálidas mãos ágeis, para os cansados pés de poeira, para as inquietas mentes que projetam as mais bonitas construções amorosas. Não cuidam de objetos somente, seu moço, mas sim de histórias. São os que insistem, mesmo contra correntes, na construção de cenários solidários. Acolhem vidas,mais que máquinas; promovem almas, mais que aparelhos. Exemplos? Como fio condutor de uma nova consciência humana e cristã, as obras sociais, também as redentoristas, confeccionando um verdadeiro tapete de solidariedade no duro chão dos necessitados. Espalhadas pelas comunidades amparam, incentivam, promovem o que poderia ser apenas silenciado pela violência dos insensíveis. Verdadeiro sopro que desperta os dons; para além de números, vidas. Aliás, estatística tem esse defeito: não mede amor fraterno, graças a Deus!

 Aproveitando a ocasião, um grande aplauso à colorida presença feminina nessas frentes de cuidados humanos. Zelo, sensibilidade, lançando sempre o bom perfume no resgate da dignidade do viver, e até mesmo descobrindo boas oportunidades de inserção afetiva e social. Mães, mulheres, jovens ou adultas, instrumentos do Santo Espírito, arejando a existência endurecida pelos indiferentes. Ganham novas asas as crianças carentes, os jovens sem rumo, os velhos descuidados. Belas asas de borboleta como brotos que largam seu casulo e felizes voam. Que maestria, não é mesmo? Haveria maior recompensa para quem cuida, do que ver uma minúscula criatura sair de sua pequenez e voar? Mais que isolados trabalhos, é bom de ver uma rede fraterna se fortalecendo. E no final do dia poder dormir, ainda que pecador, contagiados pela salvação do amor.

Antes de terminar, um aviso, camarada! Sem essa de pensar que somente pode dar quem já tem muito. Os que mais doam de verdade são aqueles que se descobriram, no chão finito de si mesmos, que sem a graça que distribui os dons, nada poderiam, nem mesmo viveriam. Veja o equilíbrio manso das asas de uma borboleta e tente imitá-la. Certamente não conseguirá. No entanto, irá mais longe ainda se não barrar o sopro do espírito que mora na casa de sua vida. Cuidado, porém, porque Ele é sutil demais para os apressados, para os agitados, pretensiosos, cheios de si. Somente habita a morada dos mansos, dos que guardam no peito o desejo de Deus e o empenho pelo amor fraterno, grandes asas que equilibram as coisas humanas entre seu pequeno planeta e o sem-fim.

Pe. Vicente Ferreira, C.Ss.R.
Superior Provincial


Nenhum comentário:

Postar um comentário