sábado, 13 de abril de 2013

De mãos dadas!


Quando tudo parecia apagado, na sombra de um frio sepulcro, nos passos vacilantes e solitários de seus amigos, Cristo ressuscitou! Ele vive, assim ecoou a perene exclamação que reacendeu o calor fraterno dos que já estavam dispersos. E vivo, voltou a reuni-los, sem medo e ousados no anúncio de tão alvissareira notícia. Do mais largo horizonte, o que era promessa fez-se realidade; o Deus que se esvaziou, elevou ao grau de eternidade tudo que brota do espírito de comunhão. “Nisto todos reconhecerão que sois meus discípulos: se vos amais uns aos outros” (Jo 13, 35). E nasceu, em sua Páscoa, um novo caminho, sem bifurcações, de sentido único: viver como irmãos.

Páscoa, não quer ser outra coisa que o germinar do divino relacional, dom amoroso. Onde reina o amor, Deus aí está, diz uma suave canção eclesial. Não serve o que se impõe pelo poder ou violência; orgulho ou vaidades diversas. Vale somente andar de mãos dadas, na construção de uma paz inquieta. Inaugural, a paixão – morte – ressurreição do Senhor, é sacramento pleno; acolhido pelos que a seguem, torna-se tarefa de uma fraternidade cotidiana. O cristão assume, então, em suas mais profundas entranhas, o estilo existencial amoroso. Sem tréguas, reveste-se da caritas para o combate, com a presença do dom Pascal, de toda barreira de preconceitos, assumindo como missão única a unidade na diversidade. Bandeira da Paz, portanto! Ela é a senha dos discípulos da ressurreição. E o que dizer de sua importância para os dias de hoje? Diante de tantas benesses, o tempo pós-moderno não pode continuar no arriscado enfraquecimento da solidariedade. Em variados cenários, o abismo entre pobres e ricos, grandes e pequenos, ofusca a força da Páscoa. No fundo, o bom seria mesmo uma ética da finitude, capaz de formar corações irmãos, não senhores.

Ninguém deveria se engrandecer de dar alguma “migalha” ao outro se a meta global fosse o bem comum. O único dom que de fato o humano deveria distribuir é saber-se limitado, criatura que reparte o que já recebeu partilhado. Essa serena consciência evitaria a soberba do acúmulo e do espetáculo que muitas vezes acende os instintos mais danosos de posse e de vingança.
Na finitude humana, a fraternidade cristã é presente do céu. De mãos dadas, somente assim o caminho, inaugurado pelo Mestre, pode seguir adiante. Ele mesmo, o Senhor, foi reconhecido no partir do pão, no serviço do lava-pés. E seus discípulos? Empenho na justiça, na promoção da vida, na construção de relações amigáveis, deveria exorcizar crescentes exposições egoístas reais ou virtuais. Seja Páscoa no coração de quem não se acha maior, todavia irmão que vive da fé caridosa.
Pe. Vicente Ferreira, C.Ss.R.

Superior Provincial

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